Repórter xavecada por Ronaldinho faz sucesso na Globo. E não é pela cantada
UOL Esporte
Maíra Lemos é a moça com jeito moleque e descontraído que entra na casa dos mineiros todos os dias. E já virou companhia certa, até mesmo amiga íntima do torcedor, na tradicional hora do almoço ao apresentar o Globo Esporte local.
Mas mesmo quem mora em outro estado deve se lembrar dela: já deve ter visto alguma matéria em rede na TV Globo ou, mais provavelmente, vai se lembrar do xaveco que Ronaldinho Gaúcho lançou diante das câmeras com um sonoro ‘quer namorar comigo?’.
A cantada ganhou repercussão até internacional e coincidiu com um momento de ascensão da jornalista. Mas não é por causa do pedido inusitado que ela faz sucesso em Minas. Ela se tornou o principal nome do Esporte da Globo Minas. Iniciou como repórter, hoje é a apresentadora do Globo Esporte e ainda faz as principais matérias de rede para programas como Jornal Nacional e Fantástico.
Maíra não faz o tipo ‘padronizado’ que aparece na TV. É viciada em jogar futebol, se permite fazer a piada que vier a cabeça e sabe lidar com o próprio erro. Afinal, todos erram. Ela poderia ser aquela prima engraçada ou a amiga espevitada que todo mundo tem. É gente como a gente.
Certa vez, ao dar uma nota séria sobre o movimento Bom Senso ao vivo se enrolou em uma palavra complicada, dessas trava-línguas cheias de sílabas e consoantes. Repetiu cinco vezes e nada de sair a pronúncia correta. A saída? Rir de si mesma, admitir que o dia estava difícil e terminar o programa treinando. Com jogo de cintura, fez do erro um acerto. Ponto para ela.
“Eu saio na rua e tenho a sensação que as pessoas me vêm e pensam que me conhecem há anos. Elas não têm vergonha de falar comigo, cria uma amizade. Recebo carinho de criança, idoso, eles vão com a minha cara”.
“Eu vejo gente na TV forçando para ser engraçado, ser coloquial, às vezes a pessoa não é assim de verdade, não convence. Se a pessoa é séria, tem que continuar séria. Se tentar ser engraçado, forçar a gracinha, fica ridículo. Eu chamo de vergonha alheia. É preciso dosar as coisas”.
Já foi comparada a Fernanda Gentil e a Tiago Leifert como mais um exemplo bem sucedido do movimento da TV Globo de buscar a informalidade em seu noticiário e aproximar o telespectador do jornalista. Ela vê semelhanças de estilo com as duas estrelas, mas jura que eles não serviram como inspiração.
E acha importante implementar um estilo bem mineiro, cheio de coloquialismo, jeitinhos e diminutivos, para fidelizar o público do estado e reforçar a regionalidade do Globo Esporte de Minas. Mas quando o assunto é rede, a história é diferente e o sotaque dá uma sumida.
“Acho que há uma semelhança sim, somos bem naturais no vídeo, isso que existe em comum. Mas eu gosto de ser eu mesma. Trabalhei já em diversos canais muito antes de o Tiago Leifert fazer o Globo Esporte em São Paulo. Meu estilo sempre foi solto, sendo quem eu sou, brincalhona no vídeo. Eu achava que eu nunca iria para a Globo, que eu não me encaixava no estilo, até que a Globo me convidou para seguir essa linha editorial mais coloquial, esse estilo mais natural. O GE ainda era muito careta, acho que consegui influenciar, colaborar”.
Xaveco de Ronaldinho Gaúcho
Foi em uma dessas aparições nacionais, no matinal Bom Dia Brasil, que ela ganhou notoriedade por causa de Ronaldinho Gaúcho. Ao entrevistá-lo em uma matéria sobre o Dia Internacional da Mulher, perguntou se o craque estava namorando. A resposta foi rápida e certeira: “Você quer namorar comigo?”.
Sem reação, Maíra caiu na gargalhada e não titubeou em usar a sonora na matéria, sem imaginar toda a repercussão. O comentário geral era que, de fato, ele era a nova eleita do camisa 10. Na época, Maíra namorava e chegou a ter problema no relacionamento.
“O Ronaldo é muito inteligente, um gênio. Na hora que perguntei ele foi muito rápido e devolveu com uma pergunta. E onde eu saía na rua, todo mundo falava que eu era namorada do Ronaldo. Tinha gente que falava para eu casar com ele, tinha senhora de idade que falava para eu não namorar porque ele é mulherengo, tinha atleticano que pedia o namoro para ele continuar no Galo. Saiu no New York Times, um amigo meu viu em Londres. Foi uma loucura. Eu sentava no restaurante e perguntavam se eu era namorada do Ronaldo. Deu problema, né? A pessoa que eu estava ficou P da vida, era uma pessoa ciumenta”, brinca.
Hoje solteira, Maíra não é taxativa em falar sobre relacionamento com jogadores de futebol, mas prefere não arrumar problemas.
“Pessoas interessantes claro que existem. Em qualquer área, se eu fosse cozinheira também teria. Já achei jogador bonito, atraente. Mas na minha área de trabalho? Vou caçar confusão onde é meu ganha pão? Com tanto homem no mundo? Tenho prioridades. A não ser que seja aquela coisa, uma paixão incontrolável. Mas nunca aconteceu”.
Viciada em jogar futebol
Ela prefere a companhia dos boleiros para outra coisa, além das entrevistas: jogar futebol. Viciada em jogar futsal desde criança, ela fez amigos como Gilberto Silva e Rafael Moura por causa da bola.
A paixão começou ainda criança quando enfrentou o preconceito dos colegas no colégio. Sua mãe chegou a ser perguntada pela diretoria da escola se concederia uma autorização para que ela jogasse com os meninos. Teve que lidar com alguns machistas, mas acabou virando mascote da turma. Ao longo dos anos, o vício só aumentou.
Chegou a pensar em profissionalizar, mas a falta de incentivo à modalidade a faz desistir. “Eu pensei em seguir carreira, mas era uma coisa totalmente fora da realidade, na minha época então o futebol feminino mal existia. Eu adoraria, se eu fosse jogadora de futebol seria um sonho, mas teve um momento na minha vida que eu tive que parar, desisti rapidinho”, conta.
Maíra não tinha tempo ruim. Atravessava a cidade só para bater uma bolinha e era fácil saber por onde ela andava nos escassos dias de folga do jornalismo esportivo. Fominha, não via bola perdida e se jogava em todos os lances. Mas as consequências começaram a aparecer.
Roxos, machucados pelo corpo, um dedão do pé quebrado e algumas lesões mais sérias. A jornalista rompeu os ligamentos do tornozelo duas vezes e chegou a ficar afastada do trabalho por 15 dias. O resultado: uma bronca da chefia e uma boa reflexão. O trabalho era prioridade.
Há cerca de um ano trocou o futsal pelo futevôlei. Mesmo morando em Belo Horizonte, achou quadras de areia e tomou gosto pelo esporte que, com menos impacto e sem contato com o adversário, tornaram as lesões mais raras.
“Você vai ficando velha. Depois de lesionar o segundo ligamento, fazer fisioterapia, natação, eu vi que não dava mais. Eu experimentei squash, natação, corrida, só sosseguei quando achei o futevôlei, que está crescendo muito. Estou bem, é ruim começar um esporte novo, o corpo não esconde, mas estou pegando o jeito”, conta ela.
Sorte dos telespectadores que não vão perder mais a companhia diária na hora do almoço.
Luiza Oliveira
Do UOL, em São Paulo
Do UOL, em São Paulo
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